A CONCEPÇÃO ESTRATÉGICA E O PLANEJAMENTO

(Artigo publicado*)

 

Prof. Ms. Arlindo Carvalho Rocha

Muito se tem dito e escrito sobre planejamento estratégico. Uns apresentavam-no como a panacéia que iria curar todos os males da organização; outros, ao contrário, viam-no como mais um modismo passageiro e sem valor. Erraram uns e outros.

Planejar, como bem definiu Russel L. Ackoff, é "preparar o faturo da empresa". O planejamento estratégico, o planejamento tradicional, o planejamento integrado, o planejamento participativo e tantos outros são desenvolvimentos de um mesmo tema: planejamento.

Embora a idéia de planejamento, no sentido de que "administrar é prever; e prever é investigar o futuro e preparar um plano de ação", já constasse da obra de Fayol, o planejamento, como o entendemos hoje, só começou a ser sistematizado a partir da década de trinta e seu grande impulso ocorreu com o fim da segunda guerra, quando a necessidade de reconstrução, reativação e reorganização de empresas e nações exigia novos métodos de trabalho e de gestão.

O planejamento sempre foi, e continua sendo, um processo sistemático e contínuo que visa preparar o futuro de uma organização. Entretanto, na sua concepção original (daí a adjetivação "tradicional") o planejamento não levava em consideração as mudanças no ambiente social e, conseqüentemente, no ambiente organizacional, já que tais mudanças eram significativamente mais lentas do que hoje e não eram consideradas fatores relevantes para o futuro imediato.

Assim, o negócio e os grandes objetivos da empresa ou organização eram entendidos como dados conhecidos e imutáveis, uma vez que não se vislumbrava qualquer mudança significativa no ambiente interno ou externo num futuro previsível e, portanto, nenhuma transformação maior se pretendia ou necessitava implementar.

No entanto, a crescente complexidade das relações sociais, a globalização de mercados, as grandes transformações econômico-sociais, as comunicações globais e instantâneas, bem como todas as demais mudanças que a sociedade vem sofrendo, passaram a exigir das organizações ações cada vez mais rápidas e flexíveis.

Agora, já não basta à organização defender-se de situações que possam ameaçar a sua estabilidade e preparar-se para competir num futuro conhecido e pouco mutável. Tornou-se indispensável aproveitar as oportunidades presentes e futuras e, mesmo, preparar o terreno para que elas ocorram, sem esquecer de que a única certeza que o futuro lhes reserva é a própria incerteza. Em outras palavras, só sobreviverão àquelas organizações que tenham a flexibilidade necessária para adaptarem-se às mudanças constantes e que tenham a exata percepção da realidade que irão enfrentar no futuro.

Nesse contexto, como a concepção tradicional de planejamento já não atendia adequadamente às necessidades organizacionais, novas concepções foram sendo incorporadas ao processo.

Dessa evolução foram surgindo várias "adjetivações" para o planejamento, sendo a mais difundida a de "estratégico", que nada mais é do que o velho e conhecido planejamento revestido e enriquecido pela concepção de "visão estratégica", isto é, a capacidade de conhecer, entender e interagir com um ambiente cada vez mais hostil, adaptando-se a ele e usando-o em seu proveito.

Essa nova concepção visa capacitar a organização a perceber, avaliar e adaptar-se ao futuro que, nas palavras de Eduardo Marques, "depende não apenas dos condicionantes legados pelo passado, mas decorre também das estratégias dos atores mais importantes (grandes empresas, governos, associações de classe, etc.) à medida que estes forçam mudanças estruturais ao tentarem a viabilização de seus projetos de futuro. O futuro é o resultado de um jogo de estratégia, daí o seu caráter intrinsecamente incerto".

Na verdade, o que mais mudou nessa evolução do planejamento foi a sua metodologia, que incorporou a concepção estratégica na forma de uma abordagem mais ampla e preocupada em questionar e avaliar a própria essência da organização, buscando definir claramente a sua missão, os seus objetivos e a sua cultura, envolvendo e comprometendo, desde sua concepção até sua execução, não mais apenas os níveis operacionais e gerenciais, mas também, e principalmente, os níveis decisórios e a alta administração.

O planejamento estratégico é, de fato, o mesmo planejamento de sempre, só que agora não mais partindo de uma realidade dada e pouco mutável em direção a um futuro previsível e seguro, mas sim das instabilidades do presente para as incertezas do futuro,

Afinal, como afirmou John Naisbitt, "Na Era Agrícola aprendemos com o passado; na Era Industrial aprendemos com o presente; na Era do Conhecimento aprendemos com o futuro".

O planejamento, portanto, evoluiu e adaptou-se às novas exigências do mundo moderno, ganhou nova denominação e sofisticou-se, porém não perdeu a sua essência: a definição de um futuro desejado e de meios eficazes de alcançá-lo.

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(*) Artigo publicado no Informativo "União", de 29/05/95, do Tribunal de Contas da União. Brasília, maio de 1995.

 

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